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Fórum Remediação do FSC em Jakarta: Reflexões sobre o equilíbrio sagrado entre as florestas e as pessoas

A Unidade de Integridade do Sistema FSC realizou o Fórum de Remediação da Ásia-Pacífico em Jakarta, reunindo diversas partes interessadas para promover a compreensão do Marco de Remediação do FSC

A Unidade de Integridade do Sistema do Forest Stewardship Council (FSC) – organizou o Fórum Remediação da Ásia-Pacífico em Jakarta, Indonésia, reunindo detentores de direitos, líderes indígenas, ONGs, empresas, pesquisadores e representantes governamentais para aprofundar a compreensão e o envolvimento em torno da Estrutura Remediação do FSC. 

O que é a Estrutura de Remediação do FSC?

A Estrutura de Remediação do FSC é um sistema padronizado que orienta como as empresas devem lidar com danos ambientais e sociais passados relacionados à conversão florestal. 

Ele promove a restauração por meio de remediação social e ambiental, garante a transparência na forma como o FSC lida com empresas não conformes e fornece roteiros justos para a remediação. Seu objetivo final é restaurar florestas e comunidades, melhorar a integridade do esquema de certificação FSC e estabelecer condições mensuráveis para potencialmente encerrar a desassociação e reconstruir a confiança. 

Um novo capítulo para a reparação

Desde sua entrada em vigor em 1º de julho de 2023, a Estrutura de Remediação do FSC tem como objetivo abordar os danos sociais e ambientais resultantes das operações florestais. A Indonésia, como cenário piloto para implementação, forneceu um estudo de caso vital sobre oportunidades e desafios. O fórum de Jakarta serviu não apenas como uma plataforma para consulta, mas também como um espaço para cura, diálogo e reconciliação, destacando o potencial positivo da reparação para restaurar ecossistemas florestais, proteger a biodiversidade e proporcionar reparação às comunidades afetadas. 

Vozes do fórum

Representando a Fundação Indígena do FSC, Nicholas Mujah (membro do Conselho do FSC-IF), Praful Lakra ( -presidente do Comitê Permanente dos Povos Indígenas do FSC PIPC, região da Ásia), Minnie Degawan (diretora-geral da FSC-IF) e Dian Intarini (gerente global dos povos indígenas para silvicultura e certificação) participaram ativamente do Fórum de Remediação de Jakarta, trazendo diversas perspectivas de liderança, governança e envolvimento comunitário.  

Durante o fórum, os participantes expressaram que, se os direitos forem mal interpretados, ignorados ou apenas reconhecidos superficialmente, as soluções correm o risco de se tornar meramente simbólicas e podem reproduzir danos em vez de repará-los. Nicholas ressaltou esse ponto, lembrando aos participantes como é fundamental compreender os direitos dos detentores de direitos dentro do sistema de Manejo Florestal.  

 Além disso, Praful compartilhou insights de sua região, a Índia, enfatizando a necessidade de integrar o conhecimento indígena ao processo e tirando lições da reparação da mineração na região. Como copresidente do Comitê Permanente dos Povos Indígenas (PIPC), a participação de Praful teve um significado especial. Juntamente com Marchus Colchester (Conselho de Administração do FSC e contato do PIPC), que também participou do fórum, a presença deles destacou a importância de garantir que as perspectivas indígenas sejam consistentemente ouvidas nos processos do FSC. A representação do PIPC no evento criou um espaço valioso para o diálogo, o compartilhamento de conhecimento e a reflexão, que podem ajudar a fortalecer a tomada de decisões em nível global. 

Da esquerda para a direita: Praful Lakra (copresidente do PIPC, região da Ásia), Marchus Colchester (Conselho Administrativo do FSC), Nicholas Mujah (membro do Conselho FSC-IF), Dian Intarini (Gerente Global de Povos Indígenas para Silvicultura e Certificação) 
 
Da esquerda para a direita: Isnadi, de Riau, Kuspawansyah, de Kalimantan Oriental, Nicholas Mujah (membro do Conselho do FSC-IF) e Minnie Degawan (Diretora Administrativa do FSC-IF) 

Além disso, Minnie lembrou aos participantes que, para os povos indígenas, a solução não é uma lista de consultas ou atividades, mas sim restaurar o equilíbrio e salvaguardar as relações: com a terra, as comunidades e o invisível. 

“As florestas são nossos parentes”, disse ela. “São os locais de descanso de nossos ancestrais, onde enterramos os cordões umbilicais de nossos filhos para conectá-los à Mãe Terra. Sustentar a floresta é sustentar a Terra e a comunidade. Para nós, reparação significa restaurar esse equilíbrio sagrado.” 

Minnie enfatizou a necessidade de uma comunicação mais clara sobre o que é e o que não é a Estrutura de Remediação. Ela enfatizou que, sem essa clareza, as comunidades correm o risco de ter falsas expectativas e sofrer mais danos.  

No centro de sua mensagem estava o apelo para reformular o Consentimento Livre, Prévio e Informado (FPIC) como um processo de construção de relacionamentos, em vez de uma etapa processual, lembrando aos participantes que o consentimento está enraizado na confiança, na equidade e no entendimento mútuo.  

Por fim, Dian Intarini sugeriu que as ações de reparação devem estar alinhadas com as políticas nacionais de empoderamento comunitário e direitos à terra, por exemplo, a Lei das Aldeias da Indonésia, para apoiar a sustentabilidade a longo prazo dessas ações. 

Observações principais

Ao longo de três dias, a agenda passou da exploração de soluções para acelerar as remediações, para apresentações sobre a cura social e cultural em conflitos não resolvidos, até uma reunião fechada com os detentores de direitos refletindo sobre suas preocupações e expectativas.  

O fórum conseguiu promover um diálogo aberto e construtivo, embora também tenha revelado uma desconexão na forma como as partes interessadas entendiam a estrutura e destacado tensões entre os povos indígenas e as comunidades migrantes/transmigrantes que exigem abordagens sensíveis. Em meio a essa dinâmica, a Fundação Indígena FSC emergiu como uma facilitadora neutra e confiável, disposta a apoiar continuamente o processo. 

Olhando para o futuro 

À medida que a Estrutura de Remediação do FSC continua a tomar forma, as lições do fórum de Jakarta nos lembram que a remediação deve ser intencional, inclusiva e enraizada no respeito pelos direitos e visões de mundo dos povos indígenas.  

O trabalho que temos pela frente não será fácil, mas, como Minnie enfatizou: “Sobrevivemos ao genocídio e à colonização agindo de forma ponderada e cuidadosa. Não vamos nos apressar, mas garantir que a reparação realmente cure”. 

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Cultivando um futuro: a jornada de Daniel Maches e Jaymar Garcia rumo à sustentabilidade econômica com base no conhecimento indígena

Como dois jovens indígenas estão cultivando cultura e sustentabilidade

As florestas regulam nosso clima, limpam o ar que respiramos e sustentam a biodiversidade que torna a vida possível. No entanto, todos os anos, mais de 12 milhões de hectares de florestas são perdidos devido a práticas destrutivas.  

A Fundação Indígena FSC (FSC-IF), em conjunto com o Forest Stewardship Council (FSC), trabalha ao lado dos povos indígenas para proteger as florestas e fortalecer as soluções naturais lideradas por indígenas. No centro dessa visão estão jovens indígenas como Daniel e Jaymar, que estão levando a sabedoria ancestral para o futuro. 

Como dois jovens indígenas estão cultivando cultura e sustentabilidade

Nas encostas arborizadas de Benguet, nas Filipinas, dois jovens empreendedores indígenas estão provando que os negócios podem ser um ato de preservação cultural e gestão ambiental. Daniel Jason Maches, da tribo ILias, e Jaymar Garcia, das tribos Kankanaey e Kalanguya, cofundaram a Banolmi Store PH para divulgar o café cultivado na floresta e a culinária tradicional enraizada no conhecimento ancestral. 

Para Daniel e Jaymar, o empreendedorismo não se resume ao lucro, mas ao valor. Em sua língua, Banolmi significa “nosso valor”, simbolizando a herança das montanhas, rios, terraços de arroz e florestas transmitida por seus ancestrais. “Nossas florestas são vida”, explica Daniel. “Elas nos dão água, alimento e identidade. Protegê-las não é apenas sobrevivência: é honrar nossos ancestrais.” 

Seu trabalho desafia o domínio das indústrias extrativas, oferecendo meios de subsistência sustentáveis que restauram a biodiversidade em vez de esgotá-la. Por meio da agricultura agroecológica, eles estão revivendo variedades tradicionais de arroz e sementes nativas, criando um banco de sementes para o futuro e transformando o cultivo de café em uma ferramenta de conservação. Jaymar reflete: “A comida é cultura. Quando salvamos nossa culinária indígena, também salvamos as espécies nativas que sustentam nosso povo”. 

Além da agricultura, a Banolmi Store PH se tornou um banco de sementes da memória cultural, preservando sabores e práticas que correm o risco de se perder. O impacto se estende à comunidade: as famílias agora veem o café e os alimentos nativos como fontes sustentáveis de renda, enquanto a culinária tradicional está ganhando novo reconhecimento como identidade cultural e ferramenta para a conservação da biodiversidade. 

A jornada não foi isenta de riscos. Desde lidar com as obrigações familiares até enfrentar a rotulação como comunistas durante sua defesa, Daniel e Jaymar demonstraram liderança com coragem, encontrando maneiras não confrontadoras de defender suas florestas enquanto construíam a confiança da comunidade.  

Olhando para o futuro, o sonho de Daniel e Jaymar

Esses empreendedores indígenas sonham em expandir a Banolmi para um modelo que possa ser replicado em outras comunidades, mostrando que os empreendimentos liderados por indígenas são viáveis e transformadores. Eles imaginam não apenas fazendas de café, mas sistemas agroflorestais completos que fornecem alimentos, restauram florestas e sustentam tradições culturais.  

Para isso, eles esperam construir parcerias com organizações, empresas e indivíduos que compartilhem sua visão e colaboradores que possam ajudar a abrir mercados, fornecer recursos e amplificar sua mensagem. “Nosso objetivo é mostrar que os alimentos e produtos indígenas não são apenas patrimônio, eles são o futuro”, diz Jaymar.  

Neste Dia Mundial do Empreendedor, a história de Daniel e Jaymar nos lembra que o conhecimento indígena é inovação. O empreendimento deles não está apenas produzindo café: está cultivando um futuro onde cultura, comunidade e conservação prosperam juntas. 

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Povos Indígenas e Inteligência Artificial: Defendendo Direitos por meio de Princípios de Respeito e Consentimento

Neste Dia dos Povos Indígenas, destacamos como o respeito e o consentimento devem orientar tanto o envolvimento quanto o uso ético da inteligência artificial.

Hoje, 9 de agosto, o mundo se une para celebrar o Dia Internacional dos Povos Indígenas. Das florestas tropicais da América Latina às savanas da África, das ilhas da Ásia às montanhas da Oceania e às tundras do Ártico, os povos indígenas continuam a proteger a biodiversidade mundial, salvaguardar o conhecimento tradicional e defender culturas enraizadas em uma profunda conexão com a terra. 

Os povos indígenas cultivam uma extraordinária variedade de tradições vivas, desde práticas e habilidades até sistemas de conhecimento e expressões que incorporam valores de respeito, cuidado e reciprocidade com a natureza. Essas tradições também fortalecem a compreensão das diversas visões de mundo e sistemas de valores que orientam as relações dos povos indígenas com o mundo natural. 

Hijos de la Tierra, Concurso de fotografia, 2023

Ao praticar e transmitir esse patrimônio, as comunidades indígenas mantêm sua vitalidade, resiliência e bem-estar coletivo. 

O Dia dos Povos Indígenas é mais importante hoje do que em qualquer outro momento da história, porque os desafios que enfrentamos — mudanças climáticas, perda de biodiversidade e o rápido avanço das novas tecnologias — exigem a sabedoria, a liderança e os direitos dos povos indígenas no centro das soluções globais. 

Os povos indígenas e as comunidades locais protegem pelo menos metade das terras do mundo, que abrigam a maior parte da sua biodiversidade. O seu património vivo — conhecimentos, práticas e valores enraizados no respeito, na gestão e na reciprocidade com a natureza — oferece caminhos comprovados para enfrentar as crises climáticas e ecológicas atuais. Quando as florestas estão ameaçadas, quando as espécies estão a desaparecer e quando os impactos climáticos se intensificam, os povos indígenas erguem-se como guardiões do equilíbrio entre a humanidade e o mundo natural. 

Pusaka, Concurso de fotografia, 2023 

Engajamento autêntico e consentimento livre, prévio e informado

Este dia também nos lembra os princípios que devem guiar nossas ações ao nos envolvermos com nossos irmãos e irmãs indígenas: respeito, autêntico e pleno o e consentimento livre, prévio e informado. Assim como os povos indígenas decidem como seu conhecimento e cultura são compartilhados, o mundo também deve garantir que as ferramentas emergentes, como a inteligência artificial, sejam usadas de forma ética — amplificando as vozes indígenas em vez de se apropriar delas.

Nossa diretora administrativa, Minnie Degawan, compartilhou suas ideias sobre os princípios do envolvimento com os povos indígenas em um webinar com a Asia Pacific Resources International Limited (APRIL). Ela nos lembra que o verdadeiro envolvimento com os povos indígenas deve ser construído com base no respeito, na confiança e no consentimento. Entrar nos territórios indígenas é entrar na casa de alguém

Minnie Degawan, Diretora Executiva da Fundação Indígena FSC

O engajamento autêntico requer escuta, cocriação e colaboração — não consultas pontuais, mas relacionamentos contínuos baseados na dignidade. Para o setor privado, isso significa construir confiança que leve a parcerias de longo prazo, licença social para operar e resultados mais sustentáveis. Para os governos, isso fortalece a legitimidade, garante que as políticas sejam culturalmente adequadas e apoia ações eficazes em prol do clima e da biodiversidade. Em ambos os casos, a construção de relacionamentos não é apenas respeitosa — é essencial para um impacto duradouro.

O consentimento não é uma lista de verificação. É um diálogo vivo — um espectro que varia de “Não” a “Talvez”, “Sim, se” e “Sim”; sempre moldado pelas tradições culturais e pelas vozes da comunidade. Uma forma de as comunidades expressarem isso é através da arte e da fotografia: escolhendo quais histórias compartilhar, como compartilhá-las e com quem.

ENGITOK — a mulher Maasai, concurso de fotografia, 2023

Soberania dos dados indígenas: um apelo global por tecnologia ética

Assim como as fotografias exigem consentimento e respeito, o mesmo deve acontecer com o uso de novas tecnologias, como a inteligência artificial. Os povos indígenas devem manter o controle sobre seus conhecimentos, imagens e vozes, e sobre como e quando estes são usados. A tecnologia deve ampliar a autorrepresentação indígena, não se apropriar dela.

Um exemplo poderoso vem de Aotearoa (Nova Zelândia), onde líderes maoris estão moldando o debate sobre inteligência artificial. Na Cúpula de Inteligência Artificial de Aotearoa 2023, especialistas como a Dra. Karaitiana Taiuru, Elle Archer e Moka Apiti enfatizaram que os dados maoris devem ser tratados como taonga — um tesouro protegido pelo Te Tiriti o Waitangi (o Tratado de Waitangi). Eles nos lembraram que o envolvimento com as comunidades indígenas no desenvolvimento da IA requer a construção de relacionamentos, compromisso de longo prazo e respeito pelos protocolos culturais, desde a pronúncia correta dos nomes até o envolvimento das comunidades desde o início. A mensagem deles foi clara: a IA não deve ser uma ferramenta de extração, mas um meio de ampliar a sabedoria coletiva, salvaguardar o patrimônio cultural e defender a soberania dos dados indígenas. Essa visão ecoa os princípios de engajamento — respeito, confiança e reciprocidade — que são essenciais para todos os povos indígenas em todo o mundo. (Laboratório de Cultura e Design, 2023)1 

Durante o webinar virtual do Dia Internacional dos Povos Indígenas do Mundo de 2025, Povos Indígenas e IA: Defendendo Direitos, Moldando Futuros, organizado pelo Departamento de Desenvolvimento dos Povos Indígenas, do Secretariado do Fórum Permanente para as Questões Indígenas, vozes poderosas de painelistas indígenas ecoaram uma mensagem clara: a inteligência artificial deve ser ética, inclusiva e baseada nos direitos indígenas. 

Como afirmou Aluki Kotierk, líder inuk e presidente do Fórum Permanente para as Questões Indígenas: “Sem salvaguardas, a IA corre o risco de se tornar uma nova forma de colonização, codificada em algoritmos que moldam nossas vidas. Para garantir que a IA sirva aos povos indígenas, devemos adotar uma abordagem baseada em direitos. Os povos indígenas devem orientar o desenvolvimento da IA, e a governança dos dados é essencial.”

Durante o webinar, a palestrante Danielle Boyer, uma jovem inventora de robótica indígena Ojibwe, expressou: “As pessoas muitas vezes esquecem que nós, como povos indígenas, sempre fomos inventores, cientistas e engenheiros. Nossos jovens são brilhantes — meus alunos estão criando aplicativos, fundando organizações, projetando robôs e construindo soluções. Eles já têm as ferramentas de que precisamos para moldar o futuro.”  Danielle explicou que o que falta são oportunidades — como a capacidade de falar diretamente com grandes corporações e preencher a lacuna entre elas e as comunidades indígenas.  

Considerações finais: 

Neste Dia dos Povos Indígenas, somos lembrados de que respeito, confiança e consentimento são a base do engajamento ético. Seja na ação climática, na conservação da biodiversidade ou na inteligência artificial, os povos indígenas devem permanecer no centro como detentores de direitos e líderes, especialmente os jovens indígenas, pois são essenciais para este futuro — trazendo inovação, conhecimento e compromisso para suas comunidades. 

Agora é o momento de defender, apoiar e compartilhar — para que as vozes indígenas liderem o caminho a seguir.

Fonte: 

  1. Culture & Design Lab (2023). Engaging with Māori in Artificial Intelligence. Culture & Design Lab. 

https://cultureanddesignlab.com/blog/article-145901

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Da terra ao palco global: mulheres indígenas se preparam para a COP30

Um treinamento regional coorganizado pela DGM Global, Conservation International e a Fundação Indígena FSC durante a Semana do Clima do Panamá 2025

Durante a Semana do Clima do Panamá 2025, ocorreu um poderoso encontro de mulheres líderes indígenas de toda a América Latina. O Workshop de Capacitação para Mulheres Indígenas na Defesa das Negociações sobre Clima e Biodiversidade — organizado pelo Mecanismo de Doação Dedicada (DGM), Conservação Internacional e Fundação Indígena FSC — criou um espaço para diálogo, aprendizagem e ação coletiva. Participantes do México, Colômbia, Equador, Honduras, Brasil e Guatemala se reuniram para fortalecer suas habilidades técnicas, trocar experiências e aprofundar seu impacto na governança ambiental global. Quer já estivessem envolvidas em advocacy nacional ou iniciando sua jornada, elas compartilhavam um compromisso comum: promover a liderança indígena nas negociações sobre clima e biodiversidade. 

Reflexões das mulheres indígenas líderes

A aprendizagem surge não só através do conhecimento técnico, mas também através do diálogo intergeracional e da revitalização da sabedoria ancestral. Durante o workshop, as participantes partilharam várias reflexões:  

A COP começou há 33 anos, mas os compromissos estabelecidos não avançaram significativamente nas últimas três décadas. Observou-se que muitas decisões continuam concentradas nas mãos dos governos e que é necessário integrar o conhecimento ancestral nas políticas climáticas para garantir um progresso sustentável e coletivo.  

Os participantes também reconheceram a complexidade das questões climáticas e observaram que muitas vezes elas não são comunicadas de forma acessível às comunidades. Eles pediram que os conceitos técnicos fossem traduzidos para formatos mais compreensíveis, para que as comunidades possam se envolver com eles em seus próprios contextos. Embora essas questões possam parecer novas nos fóruns internacionais, elas existem há muito tempo nas práticas ancestrais, visões de mundo e valores dos povos indígenas.  

“Essas questões não são novas para nós. O que precisamos é que nossa maneira de nomeá-las seja reconhecida”, mencionou um participante.

Jovens liderando o caminho

As novas gerações de povos indígenas estão preparadas para enfrentar o desafio das mudanças climáticas a partir de suas próprias realidades e perspectivas. Entre elas estão jovens profissionais que estão combinando conhecimentos tradicionais com formação formal para defender suas comunidades em um palco global. Um dos momentos mais inspiradores foi ouvir jovens mulheres indígenas, que expressaram suas preocupações e aspirações de serem agentes de mudança em suas comunidades. Elas falaram sobre trazer soluções e levantar a voz de seus povos em fóruns internacionais.  

Rosibel Rodríguez Gallardo, do povo Ngäbe, do sul da Costa Rica, compartilhou:  

“É um privilégio participar pela primeira vez de um encontro internacional de mulheres indígenas no Panamá. Quero aprender muito para poder compartilhar com meu povo.”

Essa mudança geracional — enraizada no respeito e na continuidade do conhecimento ancestral — é um sinal do compromisso duradouro com a luta indígena pela justiça ambiental e climática.  

Uma parceria para o futuro

O encontro também proporcionou uma oportunidade para construir redes de apoio entre mulheres indígenas de diferentes países, promover o aprendizado mútuo e fortalecer a liderança de cada participante. As jovens demonstraram seu compromisso com suas comunidades e com a continuidade de sua influência na agenda climática.  

Da esquerda para a direita: Rosibel Rodríguez Gallardo e Yeshing Upún

Yeshing Upún, Maya Kaqchikel e membro da Rede de Mulheres Indígenas pela Biodiversidade da América Latina e do Caribe, compartilhou: 

“É um prazer trocar experiências e conhecimentos, mas acima de tudo, unir esforços e levantar nossas vozes em resposta às diferentes propostas que serão desenvolvidas no âmbito da COP30 e das negociações em curso sobre biodiversidade.” — Yeshing Upún 

No encerramento da Semana do Clima, Minnie Degawan, diretora-gerente da Fundação Indígena FSC, refletiu:  

“A Semana do Clima deveria ser mais sensível aos aspectos culturais da população local.”

Minnie Degawan, diretora-gerente da Fundação Indígena FSC

Suas palavras nos lembram que não é possível avançar em direção a um futuro climático justo sem ouvir ativamente, respeitar profundamente e incluir genuinamente aqueles que protegem a vida em harmonia com a Mãe Terra desde tempos imemoriais.  

Sineia do Vale – Copresidente do Caucus dos Povos Indígenas 

Justiça climática com voz: um passo em direção à COP30

Enquanto o mundo aguarda a COP30 em Belém, as mulheres indígenas não estão apenas fortalecendo sua liderança, mas também construindo o conhecimento técnico necessário para participar das negociações internacionais sobre o clima. Embora o workshop do Panamá tenha se concentrado na capacitação, estratégias de advocacy e aprendizagem entre pares, ele também fez parte de um esforço maior para garantir que as mulheres indígenas estejam preparadas para participar de forma significativa em espaços formais, como a 62ª sessão dos Órgãos Subsidiários (SB62) no âmbito do processo da UNFCCC. 

Realizado em paralelo com a Semana do Clima do Panamá 2025, este encontro complementou outros esforços preparatórios, como treinamentos técnicos realizados no início de junho por parceiros, incluindo o Fórum Indígena Internacional sobre Mudanças Climáticas (IIFCC), o Fórum Indígena Internacional da Juventude sobre Mudanças Climáticas (IIYFCC), DOCIP, Nia Tero e o Fundo Voluntário das Nações Unidas para os Povos Indígenas (UNVFIP). Essas sessões se concentraram na estrutura e na agenda da SB62 e sua relevância para a COP30, incluindo principais frentes de negociação, como a Meta Global de Adaptação e o Artigo 6 do Acordo de Paris. 

Juntos, esses esforços ressaltam a importância de vincular a defesa política à preparação técnica, garantindo que as mulheres indígenas não sejam apenas visíveis nos espaços globais sobre o clima, mas também estejam totalmente preparadas para moldar os resultados. 

Reflexões finais

À medida que o mundo se aproxima da COP30 em Belém, as vozes, o conhecimento e a liderança das mulheres indígenas devem permanecer no centro das negociações sobre clima e biodiversidade. Este workshop, viabilizado pela colaboração entre a DGM Global, a Conservation International e a FSC Indigenous Foundation, reafirmou o poder das parcerias na criação de espaços onde as mulheres indígenas podem desenvolver habilidades, compartilhar conhecimento e moldar agendas globais. Fortalecer essas alianças é essencial para garantir que as mulheres indígenas não estejam apenas presentes nos espaços de tomada de decisão, mas também liderando os esforços para construir um futuro mais justo e sustentável para todos.  

Por Maria De Leon (Fundação Indígena FSC) e Lidiane Castro (Conservation International)

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